Ao discutir auxílio-funeral, Câmara ignora que familiares de parlamentares já têm direito a pecúlio. Só no ano passado, foram R$ 2,2 milhões
Os decretos legislativos 96/75 e 29/81 determinam que os valores sejam pagos na folha de pagamento seguinte à morte do deputado, descontando-se da remuneração de cada colega de plenário. Caso mais de um deputado morra no período, os pagamentos serão feitos nos meses seguintes.
Com o pecúlio, nenhum centavo é gasto pelo erário. Segundo o diretor de Seguridade Parlamentar da Câmara, Nilson Matias, metade dos R$ 564 mil do pecúlio fica com a viúva do parlamentar e o restante é dividido entre os filhos, embora, para esses, o valor fique bloqueado até que eles completem 18 anos.
Em casos em que há disputa de bens, espólios ou testamentos, a Câmara deposita o valor em juízo até que tudo seja resolvido pela Justiça, explica o diretor de Seguridade
Ontem (6), o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), disse que alguns dispositivos do Projeto de Resolução 124/08, que cria o auxílio-funeral para os deputados, também lhe causam “incômodo” e que vai mandar a Mesa Diretora reavaliar a medida. A certa altura da entrevista coletiva, ele chegou a comentar que já existe uma “caixinha” dos deputados para resolver essas questões, mas não falou diretamente do pecúlio.
Super-luxo
Segundo o projeto de resolução, que tramita em regime de prioridade e depende de aprovação do plenário, as famílias dos deputados teriam direito a até R$ 16.500 – o valor do salário dos congressistas – para cobrir despesas de traslado e funeral. Se preferirem, poderiam optar para que a Câmara mesmo se encarregasse de encomendar os serviços.
Eles alegam que, embora mais vantajoso para os familiares e sem custos adicionais para a Câmara, o pecúlio não pode substituir o auxílio-funeral. Isso porque os valores podem demorar de um a vários meses para sair.
Avião da FAB
Segundo esses auxiliares, a mulher do ex-deputado Gerônimo da Adefal, morto em março do ano passado, levou três meses para receber o pecúlio. Mais: ela teve de esperar um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) transportar o corpo do marido, porque não tinha recursos para bancar o traslado de Brasília, onde ele morreu, para Alagoas. “Você pode duvidar que tenha família pobre de deputado, mas tem”, disse Chingalia ontem.
A solução seria permitir que o valor do pecúlio pudesse ser adiantado para cobrir as despesas do funeral. Entretanto, os servidores da Diretoria Geral da Câmara informam que isso precisaria estar previsto na legislação.
Auxiliares da Diretoria Geral da Câmara negaram que o PRC 124 estenda o benefício do auxílio-funeral a ex-parlamentares. Eles disseram que apenas deputados em exercício – o que exclui os licenciados – teriam direito ao auxílio. E enfatizaram que todos os órgãos da administração pública mantêm o benefício aos servidores públicos e autoridades.
Benefício semelhante é previsto para os cerca de 3 mil servidores efetivos da Câmara, mas o rateio entre eles não envolve os parlamentares, mas apenas o desconto dos próprios funcionários concursados. O problema é que famílias de servidores, ao contrário dos familiares dos parlamentares, esperam até 15 anos para receber o pecúlio.
Segundo o presidente do Sindilegis, Magno Mello, a intenção é que a Câmara assuma o passivo do pagamento do pecúlio, já que famílias de funcionários esperam muito tempo para receber o benefício. "Houve um descompasso e estão morrendo mais pessoas do que o previsto, pois foram incluídos os servidores inativos. A Câmara só aceita a saída do pagamento compulsório se os funcionários arcarem com o passivo", diz Mello.
"Avaliação isenta"
A mesma opinião tem o deputado Paulo Renato (PSDB-SP). “A Câmara poderia antecipar um pequeno valor para fazer frente a essas despesas”, defende. O tucano, entretanto, entende que o auxílio-funeral deve ser discutido, tendo em vista que diversos órgãos públicos possuem o benefício.
O deputado Augusto Carvalho (PPS-DF) avalia que o clima de comoção Câmara, causado pela morte de Ricardo Izar, não permite que esse tipo de assunto seja debatido agora. “Vamos esperar um mês, para fazer uma avaliação isenta”, defende.
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