A cúpula do crime organizado quer ter representação política. Depois de entrar no tráfico internacional de drogas, o Primeiro Comando da Capital (PCC) quer se aproximar dos partidos políticos e financiar campanhas eleitorais. Seus líderes consideram que a 'família' pode garantir muitos votos aos seus escolhidos e têm capacidade de mobilização em 10 Estados. "Muitos partidos políticos não têm essa força", afirmou Daniel Vinícius Canônico, o Cego, porta-voz do líder máximo da organização, Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola.
Em um diálogo interceptado pela inteligência do governo estadual, Canônico e o segundo homem na hierarquia do PCC, Julio Cesar Guedes de Moraes, o Carambola, conversam com o advogado Sérgio Wesley da Cunha. Eles começam tratando da manifestação patrocinada pela facção em frente do Congresso Nacional, ocorrida em 28 de novembro. "Doutor, sabe qual a intenção dessa passeata?", pergunta Canônico. É o próprio porta-voz de Marcola quem responde: "Era pra mostrar para aqueles deputados que nós temos força política." A organização criminosa fretou ônibus em 10 Estados para levar centenas de manifestantes até Brasília com o objetivo de fazer um protesto contra o descumprimento da Lei de Execuções Penais.
No meio da conversa, Wesley defende que o PCC deve ter representação política. "Eu sempre falei pro Marcos (Marcola), uma vez que eu conversei com ele longamente, só na grade, olho no olho: "Marcos, a gente precisa ter uma representação política! O IRA (Exército Republicano Irlandês) que está bem pra cacete lá na Irlanda (do Norte), eles têm o Sinn Fein, que é um partido de representação política!"
Em seguida, Carambola e Canônico questionam o advogado sobre qual candidato a prefeito de São Paulo a facção deveria apoiar. Wesley conta quem são os pré-candidatos de partidos como DEM, PSDB e PT. Nesse trecho, a interceptação do diálogo ficou truncada. Aparentemente, os criminosos discutem como se aproximar dos partidos, doando dinheiro aos tesoureiros para financiar campanhas - há quem desconfie que a facção estaria pensando em se apossar do dinheiro das doações dadas aos partidos.
Essa não é a primeira vez que o PCC tenta entrar na política.
Em 2002, a facção quis lançar o advogado Anselmo Neves Maia candidato a deputado federal pelo PMN. Maia acabou preso. Em 2006, outro advogado suspeito, Paulo Bravos, teve sua candidatura recusada pelo PV. Naquele ano, a facção planejava eleger um deputado estadual e um federal em São Paulo.
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