O maior erro de Dilma
será não se perguntar onde errou para, depois de cinco anos e três meses
no governo, ela conseguir apenas 27% de votos de deputados federais contra a aceitação de seu
pedido de impeachment. Alguns erros muito graves foram cometidos para que o apoio de um
presidente se esvaia de tal forma. O poder presidencial tende a aglutinar apoio parlamentar,
como um magneto — ainda mais quando os cinco anos do governo são continuidade de oito
anos anteriores de um governo do seu partido, com um líder forte e prestigiado como foi Lula.
Será um grave erro se a presidente não refletir sobre em que ela e seu partido errará. Sobretudo
se tiver prestado atenção ao fato de que todos os deputados apresentavam com aceitação natural pela população, de que a corrupção do PT como a justificativa maior para o impeachment. Se ela não refletir sobre seus erros errara mais ainda, mas não surpreenderá, porque seu costume foi não ouvir alertas.
no governo, ela conseguir apenas 27% de votos de deputados federais contra a aceitação de seu
pedido de impeachment. Alguns erros muito graves foram cometidos para que o apoio de um
presidente se esvaia de tal forma. O poder presidencial tende a aglutinar apoio parlamentar,
como um magneto — ainda mais quando os cinco anos do governo são continuidade de oito
anos anteriores de um governo do seu partido, com um líder forte e prestigiado como foi Lula.
Será um grave erro se a presidente não refletir sobre em que ela e seu partido errará. Sobretudo
se tiver prestado atenção ao fato de que todos os deputados apresentavam com aceitação natural pela população, de que a corrupção do PT como a justificativa maior para o impeachment. Se ela não refletir sobre seus erros errara mais ainda, mas não surpreenderá, porque seu costume foi não ouvir alertas.
Em 2011, dizia: “A economia está bem,
mas não vai bem”. Publiquei livreto listando 15 problemas na economia, o último deles era o
otimismo, porque a euforia provocava a cegueira. Em abril de 2013, outro, dirigido ao senador Lindbergh Farias tinha o título de
Alertas sobre a economia brasileira. A presidente esnobou, ignorou todos os alertas. Outro
equívoco foi ouvir as pessoas erradas, especialmente o ministro da Fazenda que lhe fez gastar mais do
que era possível escondendo o injustificável com pedaladas, que foram alertadas em
audiência na Comissão de Direitos Humanos sobre a contabilidade criativa; ainda mais, o seu
marqueteiro, que sugeriu mentir com falsas promessas para o futuro e denúncias falsas contra
adversários. Ela própria aceitou fazer o diabo para se eleger, e o diabo cobra sua ajuda com o
inferno. A presidente errou ao sonhar que as desonerações de impostos e a redução de
tarifas das estatais não provocariam rapidamente desajustes na economia e indignação e
raiva na opinião pública. Errou ao não tentar corrigir os problemas que ela própria criou,
porque preferiu não ouvir sugestões e alertas de quem não se comportava como seus bajuladores. Não
aceitou, por exemplo, a sugestão, ainda, em fevereiro de 2015, para tentar diálogo com todas
as forças políticas, inclusive oposições. Tampouco ouviu senadores independentes que, em agosto do ano passado, lhe
sugeriram: ir ao Congresso; reconhecer erros; assumir que seu partido não era o PT, mas o
Brasil; e propor coalizão com esforço de todos para sair da crise. Ela não fez um gesto para
levar adiante a ideia, continuou surda e cega em sua arrogância. Esse foi o seu maior erro, isso lhe
tirou credibilidade pública, e alimentou a hostilidade parlamentar.
Mais recentemente, errou ao não ouvir com seriedade os gritos das ruas, nem os descontentamentos dentro do parlamento que lhe julgaria. E, ao ser despertada, errou aos escolher Lula como seu interlocutor. Lula poderia ser bom para agradar os que já eram aliados, não para conquistar aliados que olhariam para ela com desconfiança. Lula não acredita que haja parlamentar crítico que aceite aliança pelo Brasil, sem necessidade de trocas espúrias, porque, para ele, os parlamentares se dividem entre os seguidores, os comparsas, os picaretas ou os inimigos. Foi um erro também não perceber que os parlamentares em busca de cargos prefeririam negociar logo com o Temer, um novo governo, e não com ela, um governo em fase final.
Mais recentemente, errou ao não ouvir com seriedade os gritos das ruas, nem os descontentamentos dentro do parlamento que lhe julgaria. E, ao ser despertada, errou aos escolher Lula como seu interlocutor. Lula poderia ser bom para agradar os que já eram aliados, não para conquistar aliados que olhariam para ela com desconfiança. Lula não acredita que haja parlamentar crítico que aceite aliança pelo Brasil, sem necessidade de trocas espúrias, porque, para ele, os parlamentares se dividem entre os seguidores, os comparsas, os picaretas ou os inimigos. Foi um erro também não perceber que os parlamentares em busca de cargos prefeririam negociar logo com o Temer, um novo governo, e não com ela, um governo em fase final.
Agora, apesar da pouca chance de mudar e ainda menos de influir, a única alternativa, embora pouco provável, seria ela aceitar a proposta de antecipação das eleições presidenciais para outubro, com as eleições municipais. Será difícil aprovar-se rapidamente o Projeto de Emenda da Constituição nº 160/2015, que propõe o recall, plebiscito revogatório, ou novo nesse sentido. Seu grande acerto seria acolher essa proposta. Grande parte dos senadores entende que mais dois anos e meio de seu governo seriam desastrosos para o país, mas não querem ser vistos como eleitores do Temer — presidente, e Cunha, vice —, além de acharem que a divisão nas ruas levará o Brasil à instabilidade crescente, divisão que só será superada pelas urnas. Por isso, propõem eleições antecipadas; para coroar as ruas com as urnas. A presidente Dilma poderia ser a patrocinadora dessa proposta, enviando ao Senado uma sugestão de reforma à Constituição.
Artigo publicado no Correio Braziliense
Professor emérito da Universidade de Brasília e senador pelo PPS-DF
Professor emérito da Universidade de Brasília e senador pelo PPS-DF
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