Atitude "Paranoid Park"

Não cabe aqui o juízo de valor de afirmar que os jovens alienados são menores ou menos importantes, e muito menos dizer que são intelectualmente inferiores. Muitos desses "alheios ao processo" são mais cultos, inteligentes e progressistas do que avalia nossa vã filosofia marxista. Um bom exemplo disso tirado da ficção é o ótimo "Paranoid Park", do não menos ótimo diretor americano Gus Van Sant. No filme, o protagonista Alex não passa de um moleque comum da periferia de Nova York que só pensa em skate e garotas, mais em skate, que a justiça seja feita. Acontece que, além de skate e garotas, muito pouco habita a mente do nosso alvo de análise.
Escola, pais em processo de divórcio, namorada ciumenta, a guerra do Iraque e tudo mais o que puder ser assunto em uma rodinha de amigos passa totalmente despercebido pela mente do garoto. Alex gasta os 90 minutos do filme dando uma verdadeira aula de introspecção, desprezo pelo alheio e niilismo praticante. Quase poderia dizer que a alienação do nosso protagonista surpreenderia até o sábio Max Weber, genial criador do termo “blasé”, que caracteriza a latente capacidade do ser humano de tornar-se imune e imóvel frente às tragédias que assolam o planeta diariamente.
Forçado por circunstâncias extremas, Alex até que tenta em certa passagem demonstrar-se tocado pelo que acontece fora de seu restrito universo, mas não engana nem mesmo sua melhor amiga e única pessoa no filme que ainda se esforça para tentar manter conversas saudáveis com ele. Passando para o mundo real, o filme é extremamente eficaz em retratar o quão individualistas, egoístas e desinteressados estão ficando os jovens. "Paranoid Park" foi filmado em terras ianques, mas poderia perfeitamente falar sobre a vida de um jovem latino, africano ou chinês.
O filme acaba fazendo com que pensemos, nem que seja por poucos minutos, que além de garotas e skate, é realmente pequeno o número de coisas legais com as quais vale a pena se preocupar. Talvez o futebol no lugar do skate, mas não passa muito disso pra maioria dos nossos semelhantes no Brasil. Eu não, na minha lista ainda constaria o Fidel, a histórica batalha de Stalingrado, enfim, todas essas coisas que já não andam na moda hoje em dia.

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