DIARINHO - O tradicional machismo latino-americano é culpado pela exclusão de gays e mulheres de postos de comando com representatividade?
Tiago Silva - Por que os homens têm medo das mulheres quando elas estão no poder? Porque a mulher se torna independente. Por que os homens têm medo dos gays no poder? Por que uma parcela da sociedade tem medo dos negros no poder? O mundo mudou. Nós temos o Barack Obama. O Brasil caminha para a mudança. Teremos na próxima eleição três candidatas à presidência da República com chances reais de se eleger: a Heloísa Helena, a Dilma Roussef e a Marina Silva. Eu vejo que as mulheres estão se tornando independentes. E os gays e negros também. A maior demonstração é a eleição do Barack. O mundo mudou. O Brasil também vai mudar.DIARINHO - O único deputado assumidamente gay - o Clodovil, não levantava a bandeira GLBT. Ele trouxe algum benefício para a luta pela igualdade de direitos?Tiago Silva - Eu vejo que a passagem do Clodovil foi bizarra. Uma passagem de deboche. O Clodovil investiu R$ 200 mil num gabinete enquanto o salário mínimo no Brasil é de 400 reais. É um deboche. Uma afronta. Eu não me sentia representado pelo Clodovil. A eleição do Clodovil foi uma demonstração de que o povo não sabe votar. Qual era a proposta do Clodovil? O que ele apresentou de projetos? Quando o Clodovil disse que não gostava de parada gay, era porque ele nunca foi um gay assumido. Ele veio se assumir agora. Era um gay frustrado. A passagem do Clodovil só ajudou o preconceito, ajudou as pessoas a terem mais preconceito. E nisso eu culpo também a mídia. A mídia coloca o gay em programas humorísticos como palhaço. E quando coloca o gay numa condição séria numa novela, por exemplo, você não tem o beijo. Que pecado tem nisso? Um beijo? Então a eleição do Clodovil é o retrato da mídia que sempre colocou o gay como um deboche! [E por ter apelo popular ele acabou se elegendo?] Imagina! Teve meio milhão de votos!
Tiago Silva - Por que os homens têm medo das mulheres quando elas estão no poder? Porque a mulher se torna independente. Por que os homens têm medo dos gays no poder? Por que uma parcela da sociedade tem medo dos negros no poder? O mundo mudou. Nós temos o Barack Obama. O Brasil caminha para a mudança. Teremos na próxima eleição três candidatas à presidência da República com chances reais de se eleger: a Heloísa Helena, a Dilma Roussef e a Marina Silva. Eu vejo que as mulheres estão se tornando independentes. E os gays e negros também. A maior demonstração é a eleição do Barack. O mundo mudou. O Brasil também vai mudar.DIARINHO - O único deputado assumidamente gay - o Clodovil, não levantava a bandeira GLBT. Ele trouxe algum benefício para a luta pela igualdade de direitos?Tiago Silva - Eu vejo que a passagem do Clodovil foi bizarra. Uma passagem de deboche. O Clodovil investiu R$ 200 mil num gabinete enquanto o salário mínimo no Brasil é de 400 reais. É um deboche. Uma afronta. Eu não me sentia representado pelo Clodovil. A eleição do Clodovil foi uma demonstração de que o povo não sabe votar. Qual era a proposta do Clodovil? O que ele apresentou de projetos? Quando o Clodovil disse que não gostava de parada gay, era porque ele nunca foi um gay assumido. Ele veio se assumir agora. Era um gay frustrado. A passagem do Clodovil só ajudou o preconceito, ajudou as pessoas a terem mais preconceito. E nisso eu culpo também a mídia. A mídia coloca o gay em programas humorísticos como palhaço. E quando coloca o gay numa condição séria numa novela, por exemplo, você não tem o beijo. Que pecado tem nisso? Um beijo? Então a eleição do Clodovil é o retrato da mídia que sempre colocou o gay como um deboche! [E por ter apelo popular ele acabou se elegendo?] Imagina! Teve meio milhão de votos!
DIARINHO - Que importância tem o chamado ‘dinheiro cor-de-rosa’ para a economia de Floripa?
Tiago Silva - Florianópolis é uma capital turística, mas só se trabalhou Florianópolis vendendo as praias. E aí acabou o verão, janeiro e fevereiro, quem vai investir em Florianópolis? Este grande evento que é a Parada da Diversidade é em baixa temporada. Hoje pode ser que as pessoas ainda não reconheçam o potencial que tem a parada, mas daqui uns cinco anos vamos estar com público maior que o da parada de São Paulo. Lá, a parada é no meio de prédios. Me diz uma parada mais bonita e charmosa do que a nossa, que é na Beira Mar? Você desfilar para o mar. Então eu não tenho dúvida que na economia local este vai ser o maior evento desta cidade. [O senhor acha que a parada vem para ficar mesmo, mesmo com os gays assumindo postos de comando, com a diminuição do preconceito...?] O gay hoje está mais politizado. Há um avanço tremendo. Tenho visto vários gestos de carinho, vejo que o gay se sente representado. Estamos fazendo história. Há 20 anos você matava gay em Florianópolis e ficava todo mundo calado. Hoje você vai para as ruas, temos um vereador, então, as vozes começaram a gritar, a soar tanto entre os políticos quanto na sociedade. Isso tem um reflexo e um impacto. Eu te digo que não estou aqui por opção. Eu quis ser candidato porque as pessoas pediram. Eu tinha até vergonha de pedir voto. Eu tinha vergonha porque a política está muito desmoralizada. Temos que fazer parte desta história e ela passa pelo movimento gay. Florianópolis é uma cidade que se tu conhecer a história dela, é uma cidade muito preconceituosa. Essa passagem que tem aqui na praça 15 de Novembro, na frente do museu Cruz e Souza, só podia passar os brancos. Atrás os negros. Florianópolis não tem um secretário negro. O estado de Santa Catarina não tem um secretário negro! E quantos anos já se passaram da escravidão? Mas o negro ainda não é reconhecido. O político hoje, quando começa a eleição, aparece ao lado de um negro. Mas quando vai fazer a divisão dos cargos, não chama aquele negro para ocupar o cargo de primeiro escalão. Como você vai querer igualdade se o negro não está inserido? Essa questão também está presente no movimento gay. Eles vão lá na parada, falam que não têm preconceito, mas na hora… A própria ex-deputada Marta Suplicy, ela se contradiz no seu discurso. As insinuações que ela fez nas últimas eleições: “Você sabia que o Kassab não é casado?”.
DIARINHO - O que se pode fazer para mudar a ideia do homossexual sempre vinculado à promiscuidade? É por causa do passado que apontava a condição como doença e loucura?
Tiago Silva - O movimento gay está passando por um processo de politização. Se nós queremos ser tratados como iguais e não como diferentes, esse processo de sermos iguais passa pela mídia, que não pode fazer chacota com a causa gay. Falam que o gay é promíscuo, mas não falam quando uma mulher está de peito de fora no carnaval. Não falam que ela é promíscua. Então já tem o preconceito. No carnaval as mulheres podem andar de peito de fora e não há promiscuidade. Então vem aquele preconceito do gay, o gay promíscuo, porque a grande mídia passou isso para a sociedade. Atualmente, qual o programa que dá mais ibope? Quando colocam um gay. “Olha a faca, olha essas coisas…” Eu nem assisto. Quando vejo essas coisas eu nem assisto, porque eu não me sinto representado naquilo. O gay está aqui, eu estou aqui de terno. Quantos gays nós temos no judiciário, na área da saúde, na política? Isso é promiscuidade? Não é.
DIARINHO - Como a parada gay vem contribuir na luta pela igualdade de direitos?
Tiago Silva - Na questão da visibilidade. Eu não estaria aqui hoje sendo vereador e vocês não estariam hoje aqui me entrevistando, se não fosse a Parada Gay. Mostramos que não somos poucos, somos muitos.
DIARINHO - É possível gays e heteros viverem em harmonia? A maior queixa dos heteros é receber cantadas do mesmo sexo, por que isso é tão ofensivo?
Tiago Silva - Aí quando o hetero ganha cantada de uma mulher, ele não acha ruim? Ele se sente ofendido? E quando o gay recebe cantada de mulher? Eu já recebi várias cantadas de mulher, só que o sinal não avança. O sinal não está verde, está vermelho para a mulher. Recebe cantada quem dá espaço.
Mas o gay está inserido na sociedade e ele sabe os seus limites.
Tiago Silva - Aí quando o hetero ganha cantada de uma mulher, ele não acha ruim? Ele se sente ofendido? E quando o gay recebe cantada de mulher? Eu já recebi várias cantadas de mulher, só que o sinal não avança. O sinal não está verde, está vermelho para a mulher. Recebe cantada quem dá espaço.
Mas o gay está inserido na sociedade e ele sabe os seus limites.
DIARINHO - Incomoda o senhor ser chamado de viado ou bicha?
Tiago Silva - Imagina… Me incomodaria ser chamado de ladrão, de vagabundo, de drogado. Se isso que me chamam pra alguns é demérito, para mim é mérito. Se todo o mal do Brasil fosse esse…
Tiago Silva - Imagina… Me incomodaria ser chamado de ladrão, de vagabundo, de drogado. Se isso que me chamam pra alguns é demérito, para mim é mérito. Se todo o mal do Brasil fosse esse…
DIARINHO - O senhor é negro, de origem pobre, nasceu no morro do Mocotó e é gay. Como se sente hoje após ter vencido na vida?
Tiago Silva - Eu devo ter jogado pedra na cruz. Três preconceitos enfrentados num só ser humano, tem que ter força. Eu tenho o meu lado espiritual, eu sou espírita. Nós não estamos aqui para dizer: “Olha, eu vim para passar despercebido”. Então no meu lado espiritual, eu leio muitos livros kardecistas, eu vejo que eu tenho uma missão aqui na terra. A missão é esta luta contra o preconceito. Eu vejo que Deus me mandou para a terra com esta missão, eu não posso correr dela. Eu sou uma raridade no meio de quem nasceu no morro. É uma raridade estar ocupando esta cadeira. Ser gay, ser pobre, ser negro não é desonestidade. Desonestidade é ocupar um cargo público e pensar em si, não pensar nos outros. Os projetos que vou deixar para esta cidade, pode ser que eu nem venha concorrer numa outra eleição, mas só aprovando esses projetos eu já dei a minha contribuição à sociedade. Entre os meus projetos, tem o que dispõe sobre a liberdade de expressão; o que autoriza o poder executivo a dar suporte a menores durante o processo de investigação de paternidade. Por que você acha que a Sandra, filha do Pelé, faleceu? De desgosto, criou-se um câncer, talvez se ela tivesse um tratamento psicológico não teria chegado à morte. O outro projeto dispõe o teste de DNA gratuito para as mães que não têm como custear o exame e assim provar quem é o pai de seus filhos. Os dois projetos faço em homenagem à Sandra, filha do Pelé, que pra mim foi uma grande mulher. O projeto que institui obrigatoriedade de aplicação de curso pré-hospitalar aos professores da rede pública. Quantas crianças têm problemas dentro da sala? Os professores estão lá e têm um contato direto com elas. O projeto para implantar em Florianópolis a creche noturna. Por que quantas mães trabalham no período noturno?
Obrigatoriedade de aplicar adesivo de disque-denúncia contra a violência infantil nos ônibus. O outro projeto institui o dia de combate à homofobia e o outro institui o dia municipal do orgulho gay e da consciência homossexual, isso seria no mês de setembro, no mês da parada, para que possa ser inserido no calendário da cidade.
DIARINHO - A Constituição determina a igualdade de todos perante a lei, mas o Código Civil ainda não regulamentou a questão da herança entre companheiros do mesmo sexo. Homens e mulheres que vivam como companheiros terão direitos sucessórios observados em caso da morte de um deles. Já um homem que viva com outro homem ou uma mulher que viva com outra mulher não terão este direito observado. Como superar esta contradição?
Tiago Silva - Eu sou muito crítico ao judiciário. Você acha que existe justiça no Brasil? Me cita o nome de um político corrupto que está preso?! Me cita o nome de alguém que é rico e está na cadeia. A justiça foi feita para pobre e negro! Não existe justiça. Os códigos são um faz de conta. Por quê? Qual é o parlamentar, o deputado ou senador que vai fazer uma lei para punir, se lá na frente ele ou o filho podem ser pegos? Imagina, não existe justiça. Existe justiça para uma parcela que não tem acesso à justiça. Uma vez fui muito criticado quando eu disse num programa de televisão: “quer fazer uma reforma no código penal, no código civil, passa para o Ministério Público e para os magistrados fazerem”. Eles são os conhecedores. Agora você acha que os deputados e os senadores têm condições morais de fazer alguma reforma de código penal, sabendo que ele ou o filho podem ser pegos lá na frente. Você acha que o Collor ou o Renan Calheiros têm condições de apresentar uma lei que lá na frente pode pegá-los? [Então está tudo perdido?] Não, não está tudo perdido. Os movimentos sociais têm que acordar. Eles estão anestesiados. A partir do momento que tivermos mulheres, sempre acredito na mulher porque ela gera os filhos, porque ela gera a esperança. A esperança nasceu na criança. Essa juventude, junto com os movimentos sociais, pode dar essa resposta à sociedade.
DIARINHO - O senhor é casado?
Tiago Silva - Eu não estou casado. No momento eu estou ficando. Mas como eu não tenho tido tempo nem para ficar, eu estou solteiro, e não disponível.
DIARINHO - Pretender ter ou adotar filhos?
Tiago Silva - Eu pretendo adotar um filho quando eu possa me dedicar à educação desse filho. Hoje, se eu adotar, seria pra dizer à sociedade que adotei uma criança. Não quero isso. Eu quero adotar uma criança quando eu puder acompanhar ela na creche, na escola, na faculdade. Não vou adotar por adotar. Eu vou adotar para fazer o acompanhamento que os pais deveriam fazer. Hoje, os pais jogam os seus filhos no colégio e não estão nem aí. Atualmente, não tenho condições de adotar uma criança. Fico até 22 horas aqui na sessão, onde eu deixaria essa criança?
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