segunda-feira, 7 de setembro de 2009

DIARINHO ENTREVISTA VEREADOR TIAGO SILVA



“A justiça foi feita para pobre e negro!”
Vereador tiago Silva (PPS/Flnópolis)

Tiago Silva é o primeiro vereador da história de Florianópolis que se assumiu como gay. Ele marcou sua entrada na casa do povo em agosto deste ano. Um mês após assumir a suplência do vereador Marcos Aurélio Espíndola, o Badeko (PPS), Tiago teve o projeto de lei contra a homofobia aprovado. Isso em plena Semana da Diversidade, que culmina com a grande parada gay, neste domingo, na capital manezinha.
Neste clima de vitória, o vereador concedeu entrevista às jornalistas Carla Cavalheiro e Franciele Marcon. Falou dos três preconceitos que enfrentou na vida com maestria: por ser gay, pobre e negro.

Contou do seu trabalho no Morro do Mocotó, onde nasceu e se criou, das dificuldades para a mobilização dos movimentos sociais e da sua aposta em dias melhores com a ascenção de negros, mulheres e homossexuais ao poder. As fotos são de Rubens Flôres.
DIARINHO - Encerra domingo a quarta semana da Diversidade de Floripa. Como é assumir o papel de gay numa cidade que ainda tem traços de preconceito?
Tiago Silva - Eu tenho 26 anos e vejo que há um avanço muito grande em você se assumir gay. Por que há este avanço? Porque estamos na quarta edição da parada. Porém, Florianópolis foi a última capital do Brasil a realizar este tipo de evento. Florianópolis tem uma dívida muito grande com a comunidade gay. [Qual é a dívida?] A morte do jornalista Norton. Este ano fez 20 anos de impunidade. [Norton Batista da Silva foi assassinado em 15 de julho de 1989, na avenida Hercílio Luz. Ninguém foi punido neste caso e o crime prescreveu este ano. Jovens da alta sociedade foram acusados de tê-lo assassinado, mas ninguém foi punido]. Florianópolis tem uma dívida com a morte de Ricardinho Bavasso [Ricardo Bavasso, que atuou na imprensa da capital, encontrado morto após um tiro no ouvido numa rua do bairro Santa Mônica, no final de 2005. Ricardinho tava maquiado e vestido de mulher quando foi encontrado]. Ainda vivemos numa cidade preconceituosa. E o preconceito não é só com a comunidade gay. O preconceito é contra o negro também. Não existem secretários de município e de estado negros. Hoje, a comunidade gay pode ir às ruas e dizer: “Eu sou gay. Eu sou lésbica. Eu sou travesti”. É um novo período. Depois da parada gay você não ouve mais falar de assassinatos. Isso acontece porque agora eles sabem que as pessoas vão para a rua e se manifestam. Não é como há 20 anos que mataram o Norton, todo mundo sabe o que aconteceu mas ninguém falou. Vejo que Florianópolis hoje está diferente. [Hoje é mais fácil ser gay?] Hoje é mais fácil ser gay. Mas todo gay ou toda lésbica que assume paga um preço pela felicidade. O preço é o preconceito. Não é fácil. Tem que estar disposto a pagar este preço.

DIARINHO - Muitas pessoas falam que o senhor só promoveu eventos como a Parada da Diversidade e o Pop Gay porque tinha intenções políticas. É verdade?
Tiago Silva - Eu nunca tive pretensões políticas. Queria seguir a carreira jurídica. Não sou político por opção, sou político por uma causa. Eu tenho os meus projetos e vou apresentar. “Ah, mas os projetos podem dar visibilidade política…”. Se toda a visibilidade política fosse alcançada por trabalho, eu tava feliz. Eu tava eleito.

DIARINHO - Na eleição passada, era esperado até dentro do seu partido, que o senhor fosse estourar em votos. Porém, ficou na suplência. O senhor acredita que gay não vota em gay?
Tiago Silva - Eu sou o único idealizador de uma Parada Gay, no Brasil, que se elegeu. Esse leque de eleição é muito mais amplo, tu tens que ter estrutura. Eu não tinha nem gasolina para andar com o carro. Não tinha panfleto. Algumas pessoas nem sabiam que eu era candidato. Nós quebramos uma barreira. Porque hoje tu vê a câmara, tu vê o senado, e é um reflexo do Brasil, só chegam os poderosos. Só chega o Collor, só chega o Sarney… Por que isso acontece, porque os movimentos sociais estão anestesiados. E no movimento gay não é diferente. Hoje, a representatividade está na Câmara, no Senado, mas não há representatividade social lá. Para que os movimentos sociais tenham representatividade é preciso que os partidos proporcionem isso. Quem é o movimento social no Senado, na Câmara Federal? Só chegam os poderosos. Quer um exemplo? Além do movimento gay, eu represento a periferia, o Morro do Mocotó. Aí quando chega a época da eleição, entre votar no Tiago que trabalhou socialmente o ano inteiro e em alguém que deu uma saca de cimento ou um banheiro, eles vão votar em quem? Em quem deu alguma coisa… E olha que faço trabalhos sociais reconhecidos pela cidade. Aí eu ouço: “Ai Tiago, mas eu ganhei isso, aquilo”. [Qual a forma de acabar com essa política do assistencialismo?] Você não consegue fazer nenhuma outra revolução se não passar pela educação. Vejo que só vamos alcançar êxito se começarmos a ensinar às pessoas a não vender o seu voto. O seu voto tem consequência. Eu não dei nada na minha campanha. Só apresentei propostas. Eu mostrei o que eu podia fazer, que são os projetos que atualmente estão tramitando na Câmara.

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