domingo, 13 de setembro de 2009

CHUVAS: SANTA CATARINA EM ALERTA


A cidade de Içara decretou estado de emergência por volta das 18h30 do último sábado por causa das chuvas que atingem Santa Catarina desde o início da semana. Balanço da Defesa Civil indica que 183 mil pessoas foram afetadas pelos temporais, que deixaram ainda 1.906 desabrigados, 10.648 desalojados, 291 deslocados, 173 feridos e cinco mortos no Estado. A precipitação atinge a região desde o início da semana e tornados causaram destruição em três cidades catarinenses.

Um deslizamento de terra numa rodovia do anel viário que liga a cidade à rodovia SC-444 bloqueou o acesso a uma comunidade local. A Defesa Civil do município informou que 50 m de barreira caíram sobre a pista. Na tarde deste sábado, a Defesa Civil do Estado registrava 67 municípios em emergência.

Sete comunidades estão completamente isoladas em Praia Grande, devido ao alagamento em rodovias e queda de pontes. No total, 195 famílias não têm como deixar a região.

A chuva em Araranguá, cidade localizada na região sul do Estado, atingiu o índice de precipitação de 110 mm nas últimas 48 horas, segundo informações do Centro de Recursos Ambientais e Hidrometeorologia do estado (Ciram). Passados seis dias do tornado que atingiu municípios da região oeste de Santa Catarina, as vítimas tentam retornar ao ritmo de vida normal, limpando e consertando as casas ou refazendo a rotina nos abrigos. A ajuda prometida de cestas básicas e liberação de verbas, no entanto, ainda não se efetivaram, agravando ainda mais a vida de quem perdeu tudo.

Em Abelardo Luz, próximo à divisa com o Paraná, mais de 3 mil pessoas foram atingidas pela ventania da noite da última segunda-feira, sendo que pelo menos 52 moradores tiveram as casas destruídas. No ginásio de esportes municipal, quatro famílias permanecem alojadas. Elas trouxeram tudo o que restou depois da chuva, incluindo uns poucos móveis, eletrodomésticos, utensílios de cozinha e algumas roupas.

O auxiliar de serviços gerais Jair de Freitas teve que abandonar às pressas o porão onde morava com a mulher e três filhos. "A água inundou tudo e a casa ameaça desabar. Agora, estamos sem nada", contou o ex-agricultor, que trocou o campo pela cidade para trabalhar de pedreiro, mas teve que parar por causa de uma cirurgia no joelho. Sem ter o que fazer, ele conta que não sabe como vai manter a família daqui para frente.

Drama semelhante vive Janete Padilha, que também foi levada para o abrigo depois que sua casa foi arrasada. "Só conseguimos salvar o fogão e dois sofás. O resto se perdeu", disse ela, que tem quatro filhos, sendo o mais novo um bebê de dois meses.

A renda da família não chega a um salário mínimo, dinheiro que vem do trabalho do marido, que é pedreiro. Apesar da pobreza, ela não conta com ajuda de programas sociais do governo. O benefício do Bolsa Família que recebia foi bloqueado há sete meses, sem que ela sequer saiba o motivo. "Agora, esse dinheiro está fazendo muita falta", lamenta.

O mesmo problema sofre o casal Valmir e Marizete de Souza, que vivem no bairro mais pobre do município, com quatro filhos. O vento arrancou o telhado do barraco de compensado, que foi coberto por uma lona. Ajudante de pedreiro, o ganho mensal não chega a um salário mínimo, pois recebe por dia e quando chove não há trabalho.
"Teve mês em que só ganhei R$ 50", conta ele, ao lado da mulher, grávida do quinto filho. Mesmo vivendo na miséria, também não recebem o Bolsa Família, nem cestas básicas prometidas para os desabrigados. O pouco alimento que tinham se estragou no temporal e o almoço da família de no sábado era só arroz.

Os casos são acompanhados de perto pelo secretário de Infraestrutura, Valdecir Teston, que se preocupa com a demora na liberação de verbas para o município, que teve o sistema de transporte e a economia prejudicados pela chuva, que arrasou estradas e pontes e colocou abaixo galpões e aviários.
"A situação é horrível. Foi uma catástrofe para Abelardo Luz, que é essencialmente agrícola e tem 48% da população vivendo no meio rural. Isso dificulta a assistência aos desabrigados, mas essas pessoas não podem esperar. Nós precisamos de ações imediatas dos governos para que elas tenham um mínimo de condição de sobrevivência", afirmou.

Nos últimos cinco dias, o índice atingiu a marca de 238 mm, superando a média histórica mensal. Na mesma região, a precipitação registrada na cidade de Timbé do Sul foi de 342 mm na semana, sendo 156 mm apenas nas últimas 48 horas. O índice equivale a mais de 342 l de água despejados sobre uma área de 1 m².


Desvio na BR-101
Na rodovia BR-101, a mais movimentada de Santa Catarina, uma lâmina de água de 50 cm atingiu no final de semana a pista entre o km 404 e o km 410, trecho que compreende os municípios de Maracajá e Araranguá.

A Polícia Rodoviária Federal informou que durante o período foi registrado congestionamento no local e que o trânsito estava sendo alternado por um elevado existente nas proximidades. Segundo a PRF, a opção para os motoristas que trafegaram em direção ao sul era entrar num desvio no km 380 da BR-101, passar pelos municípios de Içara, Criciúma, Forquilhinha, Meleiro, Turvo e Ermo e acessar a BR-101 na altura do km 426. A opção inversa vale para os veículos de passeio que trafegavam no sentido sul-norte.

Deslizamentos
O risco de deslizamento de uma encosta sobre diversas casas em Palhoça, na região metropolitana de Florianópolis, fez com que a Defesa Civil e prefeitura local iniciassem um trabalho de remoção dos moradores na tarde deste sábado. Apesar do perigo, alguns deles insistem em permanecer no local.

Um geólogo esteve na região do bairro Bela Vista, localizado próximo ao entroncamento das rodovias BR-101 e BR-282 e avaliou que um morro estaria cedendo, oferecendo risco a 16 residências. De acordo com a Defesa Civil, em três delas a situação é ainda mais crítica já que parte da encosta cedeu em novembro do ano passado, durante as fortes chuvas registradas em Santa Catarina.

"A Defesa Civil e a prefeitura vistoriaram a área e estão providenciado uma operação para encaminhar essas pessoas a locais seguros", disse o gerente estadual da Defesa Civil, Emerson Emerim.

O catador de papelão Ary Ferreira da Luz, 59 anos, é um dos que está em situação mais delicada: ele mora bem abaixo do morro e no caso de um possível deslizamento sua casa seria a primeira a ser atingida. Mesmo diante do perigo, ele se nega a passar a noite num abrigo.

"Medo de desmoronar tudo a gente tem, mas o que vou fazer?", disse. "Eu cato papelão e comprei essa casa. Paguei por ela e não tenho como morar de aluguel. Não posso sair daqui", completou. Durante toda a tarde, funcionários da Defesa Civil irão monitorar o morro e continuar a retirada das famílias para abrigos da cidade. As fortes chuvas em Santa Catarina já afetaram cerca de 18,7 mil pessoas, entre desalojados e desabrigados, de acordo com informações divulgadas pela Defesa Civil. Segundo a organização, 1.878 pessoas tiveram as residências atingidas e estão em abrigos das prefeituras, 16.634 procuraram refúgio na casa de parentes e 286 foram obrigadas a mudar de cidade. Cinco pessoas morreram desde segunda-feira, quando tornados atingiram três cidades do Estado.

Com informações do Portal Terra e Ag Brasil

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