quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

BARACK OBAMA PROPÕE NEGOCIAÇÕES COM CUBA


Quando meu pai era um jovem vivendo no Quênia a liberdade e as oportunidades dos Estados Unidos exerceram uma atração tão poderosa que ele deu a volta ao mundo para perseguir seus sonhos. A história de meu pai não é única. O mesmo é verdadeiro para dezenas de milhões de pessoas de todos os continentes - inclusive para muitos cubanos que vieram e fizeram aqui suas vidas desde o início da ditadura de Fidel Castro há quase 50 anos.
É uma tragédia que, a apenas 90 milhas de nossa costa, exista uma sociedade onde liberdade e oportunidades são mantidas fora do alcance por um governo que se mantém pendurado a uma ideologia desacreditada e ao controle autoritário. Uma abertura democrática em Cuba é e deveria ser o principal objetivo de nossa política. Precisamos de uma estratégia clara para conseguí-lo - uma estratégia que dê alguns passos agora para espalhar a mensagem de liberdade na ilha mas que preserve nossa habilidade de barganhar em defesa da democracia num governo pós-Fidel.
Os meios primários que temos de encorajar mudança positiva em Cuba são de ajudar os cubanos a se tornarem menos dependentes do regime de Castro de forma fundamental. A política dos Estados Unidos deve ser construída em torno de dar poder ao povo cubano, que é quem tem o destino de Cuba nas mãos. Os Estados Unidos têm interesse crítico em ver Cuba se juntar ao grupo de democracias estáveis e economicamente vibrantes do Hemisfério ocidental. Isso nos traria importantes benefícios econômicos e de segurança e permitiria cooperação em migração, combate ao narcotráfico e outras questões.

AVANÇAR A REFORMA POLÍTICA
Esses interesses e nosso apoio às aspirações do povo cubano não são bem servidos pelo cerco ao regime de Castro, motivo pelo qual devemos apoiar o avanço político pacífico e reformas econômicas na ilha. A doença de Castro e mudanças potencialmente tumultuadas tornam a martéria mais urgente.
Infelizmente, o governo Bush fez grandes gestos nessa direção mas fracassou em avançar a causa da liberdade e da democracia em Cuba. Isso é particularmente verdadeiro da decisão de restringir a habilidade de cubano-americanos de visitar a mandar dinheiro para seus parentes em Cuba. Isso é uma questão estratégica e humanitária. Essa decisão teve um profundo impacto negativo não só no bem estar do povo cubano. Isso os tornou mais dependentes do regime de Castro e os isolou da mensagem transformadora levada pelos cubano-americanos.
Na "primavera cubana" do fim dos anos 90 e início desta década, dissidentes e ativistas pelos direitos humanos tinham mais espaço do que nunca desde o início do governo Castro e a sociedade cubana experimentou uma pequena abertura na conquista de liberdade.
As políticas dos Estados Unidos - especialmente o fato de que os cubano-americanos eram autorizados a manter e aprofundar laços familiares - foram uma causa chave para a "primavera cubana". Embora tenham sido interrompidas pela deplorável decisão de Castro, em março de 2003, de prender os 75 dissidentes cubanos mais importantes e corajosos, a abertura demonstrou o que é possível fazer com uma estratégia sensível.
Nós nos Estados Unidos deveríamos fazer o possível por uma nova abertura, dando alguns passos agora e prometendo novos passos quando aberturas temporárias se consolidassem em mudança duradoura.
As conexões de cubano-americanos não são apenas um direito básico em termos humanitários, mas também nossa melhor ferramenta para ajudar a promover na ilha uma democracia de baixo para cima. Assim sendo, eu vou dar aos cubano-americanos direitos irrestritos de visitar a família e fazer remessas de dinheiro para a ilha.
Mas ao tomar algumas iniciativas agora, faz sentido estratégico manter algumas formas importantes de indução que podemos usar ao lidar com um governo pós-Fidel, pois o fato infeliz é que a saída de Castro não garante a chegada da liberdade à ilha.


CONVERSAS BILATERAIS
Assim sendo, vou usar agressivamente a diplomacia para mandar uma importante mensagem: se um governo pós-Fidel começar a abrir Cuba para mudanças democráticas, os Estados Unidos (o presidente trabalhando com o Congresso) estão preparados para normalizar as relações entre os dois países e reduzir o embargo econômico das últimas cinco décadas. Essa mensagem de meu governo em encontros bilaterais seria a melhor forma de promover liberdade em Cuba. Negar-se a fazer isso seria substituir política séria por teatro - e temos visto muito disso nos últimos seis anos.
Não podemos perder de vista o objetivo fundamental: liberdade em Cuba. Ao mesmo tempo, deveríamos ser pragmáticos em nossa política e ter uma visão clara dos efeitos dela. Todos sabemos do poder da liberdade e das oportunidades que os Estados Unidos, em seus melhores momentos, representaram e ajudaram a disseminar. Se empregados com sabedoria, esses ideais terão um efeito transformador sobre os cubanos de hoje tanto quanto tiveram sobre meu pai mais de 50 anos atrás.
Texto escrito por Barack Obama e publicado no jornal Miami Herald

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