quarta-feira, 18 de julho de 2007

ESPECIALISTAS CULPAM GOVERNO E PISTA POR ACIDENTE DA TAM

O desastre aéreo que deixou novamente o país de luto, dez meses após o acidente com avião da Gol, foi consequência da inação do governo diante da crise que o setor enfrenta há meses, na avaliação de especialistas.

Pelo menos 200 pessoas devem ter morrido no acidente com o Airbus 320 da TAM na noite de terça-feira, após o avião não ter conseguido pousar no aeroporto de Congonhas e ter feito sobrevôo rasante sobre avenida muito movimentada, explodindo ao se chocar com prédios.

Dias antes, uma aeronave de pequeno porte da empresa Pantanal havia derrapado na pista recém-reformada de Congonhas, uma obra de cerca de 20 bilhões de reais e que não resolveu o principal problema do local, segundo analistas. A pista é considerada por especialistas ouvidos pela Reuters como inadequada para grandes aviões, além de o aeroporto ter tráfego maior do que o seguramente aceitável.

"A responsabilidade das autoridades nesse caso é total, porque a Infraero liberou a pista antes de a obra estar pronta para as companhias não terem problema com o aumento de fluxo das férias escolares", avaliou o consultor da Multiplan Paulo Sampaio, há 42 anos no setor aéreo.

"Estamos à beira de outro acidente, e continua a mesma irresponsabilidade", disse Sampaio após saber que aviões decolavam na manhã desta quarta-feira de Congonhas. Sampaio agregou que, assim como aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, e Pampulha, em Belo Horizonte, Congonhas deveria ser usado somente para vôos diretos para as regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste ou com apenas uma escala.

O consultor explicou que um grande número de conexões requer aviões de grande porte em uma pista inadequada para recebê-los.
"Em 2006 passaram por Congonhas 18 milhões de pessoas. Se tirassem as conexões, cairia para 12 milhões, um fluxo um terço menor", sugeriu.

O pesquisador da Coppe/UFRJ e especialista em situações de emergência Moacyr Duarte disse que, se o aeroporto de Congonhas fosse uma refinaria, nunca teria recebido licença para operar devido ao alto risco social que representa porque está localizado em uma área densamente povoada.

"O risco de Congonhas é inaceitável", ressaltou, defendendo também a redução da operação no local.

Segundo Duarte, se o mesmo acidente tivesse ocorrido nos aeroportos do Galeão, no Rio de Janeiro, ou Cumbica, em Guarulhos, as pessoas ainda estariam vivas porque a aeronave não encontraria obstáculos como os prédios na área de Congonhas.

De acordo com o professor da Universidade Federal Fluminense e consultor de gerenciamento de risco, Gustavo da Cunha Mello, para pousos de aviões do porte do Airbus 320, como o da TAM, a pista deveria ter no mínimo 2.000 metros e mais 300 metros em caso de chuva, e não os 1.940 metros totais da pista de Congonhas. "A TAM sabe das especificações. Operou em risco, porque a operação é mais rentável com aviões maiores", afirmou. Segundo ele, o preço de operar em um aeroporto internacional como o de Guarulhos é quase o dobro do pago nas operações em um aeroporto local, como Congonhas.

O presidente da TAM, Marco Bologna, afirmou que o A320 está totalmente habilitado para operar em Congonhas.

Por Denise Luna
(Com reportagem adicional de Andrei Khalip)

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