2ª PARTE
DIARINHO - No dia de sua posse o senhor afirmou que, além do senhor, a Câmara de Floripa tem mais gays. Isso foi pra polemizar ou há mesmo alguém no legislativo que ainda não saiu do armário?
Tiago Silva - Eu não falei esta frase. Quando eu assumi eu disse: “Esta casa agora conta com um gay. Não só com hetero”. Aí um colunista de esportes disse que eu não era o único gay. Aí eu disse: “Gay assumido sou o único”. Eu não vou dizer que há gays na Câmara. Eu vou falar de mim. Eu não sirvo para apontar para a sexualidade do outro.
DIARINHO - Por que é tão difícil a aprovação da lei que autoriza a união civil entre homossexuais?
Tiago Silva - Esse projeto é da ex-deputada Marta Suplicy, e está parado há 14 anos no Congresso. Existe a bancada dos evangélicos, que tem em torno de 30 deputados federais. Trinta deputados no meio de 513 é uma bancada forte. Toda vez que há eleição para presidente da Câmara, é negociado com esta bancada evangélica que aquele presidente não vai colocar na ordem do dia aquele projeto. Enquanto nós tivermos políticos que pensam em causa própria, que pensam “Eu quero ser presidente da Câmara e para isso eu não posso colocar este projeto em votação”, vai prevalecer o individual e não o coletivo.
DIARINHO - O que é este projeto contra a homofobia que o senhor está defendendo na Câmara? [O projeto foi aprovado por unanimidade, na Câmara de Vereadores de Florianópolis, duas horas após Tiago conceder esta entrevista].
Tiago Silva - Eu vejo um grande avanço na Câmara. Mas isso só aconteceu quando nós elegemos um representante. Não vai existir nenhuma representação ou algum projeto que possa beneficiar a coletividade se nós não elegermos pessoas comprometidas com os movimentos sociais. [O que prevê o projeto?] Um exemplo: um casal de gays ou de lésbicas chega a um restaurante. Se eles forem convidados a se retirar do ambiente, o proprietário pode ser advertido, multado e até ter cassado seu alvará. Porque o dinheiro do casal gay é o mesmo do casal hetero. [Mas em 2009, isso ainda acontece em Floripa?] Sim, muitos casos. O que me chama a atenção é que os gays não gostam de denunciar porque são motivo de chacota dentro das delegacias. Com essa lei, aquele que sofrer discriminação será criminalmente penalizado e também penalizado na área administrativa pública. Serão apurados os fatos, porque precisamos apurar, não podemos condenar sem apurar. Este projeto vai possibilitar às pessoas denunciar. Se pagamos impostos, temos os mesmos direitos. Nós da comunidade gay no Brasil só temos deveres. Nós não temos direitos. Isso é um absurdo!
DIARINHO - Como foi a tramitação deste projeto na Câmara? Os religiosos fizeram oposição?
Tiago Silva - Existe um vereador evangélico aqui (Asael Pereira, do PSB). E eu conversei com ele e disse: “Você é um vereador evangélico e eu sou um vereador gay. O senhor representa um segmento e eu represento outro”. E ele me disse que teria dificuldade em votar. Aí eu disse a ele que também teria dificuldade em votar os projetos dele. “Mas eu lhe respeito como pastor e gostaria que o senhor me respeitasse como gay e que o senhor não crie nenhum atrito”. No parlamento a gente tem que ter como linha de frente a conversa. [Esse seria o único caso que poderia representar problemas para a aprovação do projeto?] Estamos na semana da Parada. Qual o vereador que votará contra? Eles pensam diferente do que pensavam lá atrás. Eles pensam assim: “Eles estão se unindo. Eles estão votando”. Hoje é o Tiago, amanhã pode ser outro e assim vai. Convém votar a favor porque gay também vota. Até então, para eles, gay não votava.
DIARINHO - Na eleição passada, o seu partido se coligou com um adversário do atual prefeito Dário (o deputado estadual César Souza Júnior, do DEM). Naquela época, o senhor ocupava um cargo de confiança na prefeitura. Acredita que o prefeito Dário Berger poderá se vingar e não sancionar a lei da homofobia?
Tiago Silva - O prefeito Dário Berger participou na noite de terça-feira da abertura da Semana da Diversidade. Este não é um projeto do Tiago Silva. É um projeto que representa um movimento. Eu vejo o prefeito como um grande homem público que quer beneficiar o coletivo. E eu estou aqui fazendo parte da base do governo. Então o prefeito manda os projetos para esta casa e o Tiago tem votado.
DIARINHO - O que o senhor acha desse troca-troca de vereadores que acabou lhe colocando no cargo por dois meses? Acha que isso vai ajudá-lo politicamente em uma próxima eleição?
Tiago Silva - Ninguém se elege sozinho. Para eleger um vereador são precisos 15 mil votos. Temos vários casos, cito o Salum que fez 80 mil votos e não se elegeu vereador porque não fez legenda. [Roberto Salum, apresentador de TV, candidato a deputado federal há três anos]. Estou aqui cumprindo uma missão partidária. O partido me reconheceu, eu fiz votos, eu sou o primeiro suplente. Não estou aqui ocupando um cargo que não me foi creditado.
Tiago Silva - Na primeira semana eu me assustei. Fui para casa e pensei: “Meu Deus, será que é isso que eu quero para a minha vida?”. Aqui tem que ter muita coragem, firmeza e não deixar eles gritarem mais do que outro vereador. Porque se gritar eu também grito!
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